sábado, 21 de novembro de 2009

Canção de Amor para uma moça judia

Conheço Rosinha Palatnik
por um único retrato de louça
que vive no cemitério
entre os túmulos judeus
Morreu em 1936 aos vinte anos de idade
e há sobre a lápide letras em hebraico
que não decifro

Talvez suicídio, talvez outra sorte
De qual morte morreu essa moça judia
que não morre?
De qual vida ela vive naquele retrato
de louça que mais parece de carne
E por que vem assim
semear-me no meio da tarde?

O que te devo, mulher, o que queres?
Viveste na minha cidade
e queres ainda viver por mim, por meus olhos
por minha carne de homem
boca lábios ouvidos
e queres ser uma música

Te vejo em muitos lugares
sempre dentro do retrato
presa e viva, branca e morta
Que queres, mulher,
tanto tempo depois do tempo
em que houve calor para ti no mundo?
Que queres da tua janela de vidro
com o teu corpo de cinzas

Não me faças desejar-te assim
Tu que não tens mais carne
para o meu desejo
nem sequer seda de vestido que eu toque
nem um corpo nem seios
só o retrato frio na lápide

Que amor terrível é este que me trazes?


Iracema Macedo

Recitei esse poema num sarau poético que participei em 2001 no centro experimental de pesquisa Teatral aqui em Natal.

Era uma época em que eu fazia parte de um Projeto chamado Poéticas potiguares em que tinha que encenar poemas de poetas potiguares uma vez por mês, onde tive a oportunidade de conhecer os principais nomes da poesia potiguar como Ney Leandro de Castro, Marize Castro, Iracema Macedo, Moaci Cirne e tantos outros.

Foram dois anos fazendo mensalmente esse trabalho que era um desafio, pois colocar em cena a subjetividade da poesia não era nada fácil.


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