domingo, 6 de junho de 2010

POEMA PARA PEDRO, O MUITO
Iracema Macedo

Por tanto tempo amei Pedro
que já o deixara há anos
e ainda era cedo
e não havia mais jeito
e no entanto eu amava
como uma espécie de bicho que aguarda
como uma espécie de massa descansando

Amava
amava o umbigo
o trigo
o talhe firme de seu corpo moço
e Pedro era Pedro e muitos
não era um só
mas todos que eu ia amando pelo mundo

Em cada um era Pedro
em cada Pedro um segundo
mil e único

Vento estúpido, vento estúpido
por que me fizeste uma só para um homem múltiplo?
Por que de mim não fizeste também tantas Marias?
Por tantos Pedros pecada
Por tantos Pedros navegada
Vento estúpido, vento estúpido, ao invés me deixaste só
sendo uma e mais nada
Quando no fundo eu queria
ser as outras Marias
que Pedro também amava
e ser as outras mulheres com quem Pedro deitava
Vento estúpido, deus do múltiplo,
tu não me deste esta dádiva.

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