domingo, 2 de outubro de 2011

As senhoras da rua estão de volta!

Em novembro desse ano, estaremos de volta com o espetáculo Pobres de Marre, depois de quase 2 anos fora do palco a peca volta com novo elenco, 'e a atriz Alessandra Augusta do grupo de teatro Casa da Ribeira.
Para quem nunca ouviu falar; o espetáculo traz para o palco o cotidiano dos moradores de rua, seus medos, sonhos, desejos, suas revoltas e todo o universo que encontramos em nossa pesquisa in loco.
Ah! Também 'e inevitável dizer que o espetaculo aborda o tema da "espera" a partir do ponto de vista dos moradores de rua.
Eu sei...vocês vão falar: "Ah! Mas Brecht ja falou sobre isso em outros tempos". Ok, mas 'e bom sempre lembrar que a espera 'e uma condição do homem. Estamos sempre esperando algo, e na espera por esse algo, que nao sabemos bem o que 'e, vamos preenchendo a vida com pequenas conquistas (conseguir um emprego, comprar uma casa, ter filhos, etc.), que na verdade nada mais 'e, do que um passatempo pra suportar essa espera.
Sim, sim, sim, isso 'e filosofia de botequim sim, mas e dai? Nesse trabalho esse tipo de pensamento 'e o que mais nos interessa.
Semana passada, eu e Alessandra iniciamos um estudo dos moradores de rua que vivem na Ribeira e no Centro da cidade, estudo que vai colaborar para a construção da personagem que ela vai assumir.
Encontramos figuras muito interessantes. Um deles, um senhor de aproximadamente 60 anos, que chamava alguém no prédio da Marinha, que fica no porto do Rio Potengi. Nos aproximamos e perguntamos se ele estava querendo falar com alguém, ele disse que estava querendo se "apresentar" ao capitão, pois quando mais novo ja tinha servido a Aeronáutica. Um marinheiro se aproximou pra saber o que estava acontecendo, entao perguntei ao senhor: "Olha, ta vindo um marinheiro ai, o senhor quer que eu peça a ele pra deixar o senhor entrar?", ele timidamente disse: "nao minha filha, vamos embora daqui..." e saímos.
Mas a frente, perguntei onde ele morava, e ele respondeu: "nas maos de Deus". Ficamos intrigadas com essa resposta.
Bom, ainda conversamos um bocado de tempo. Ele nos mostrou onde dormia e pediu que eu conseguisse pra ele uma calça verde e uma blusa vermelha, e ainda explicou: "tem que ser verde escuro, que 'e pra nao sujar". Em nenhum momento pediu dinheiro nem comida. Tinha um machucado bem feio na mao direita, que ainda sagrava, um sangue escuro, ja coagulando. Muitas outras coisas foram observadas nesse personagem, coisas que serao levadas para o trabalho no palco.
Antes de se despedir, perguntei seu nome; " Jose", disse ele. Na verdade o nome era bem maior, mas so consegui entender Jose.

Entao, nos dias 03, 04 e 05 de Novembro no BNB de Sousa-PB voces poderao conferir o resultado dessa reestreia.



 Sr. Jose, morador de rua citado acima.
 Alessandra Augusta e Quiteria Kelly ensaio do espetaculo Pobres de Marre
  Alessandra observando a "casa" de um mendigo

Um comentário:

  1. Inaugura a postagem pra dizer da minha alegria de estar retomando esse processo. Esta peça é bem preciosa e fomos muito felizes com ela, Maria e Dasdo ainda tem muito para falar pro mundo.
    bj e com trabalho meninas. Estou aqui em Fortaleza mas o coraçao com vcs.

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